Defensor do feriado da Consciência Negra afirma que, assim como
os pomeranos possuem feriados municipais, os negros também possuem este
direito
O Dia da Consciência Negra, que será comemorado na próxima terça-feira
(20), é comemorado com feriado em Canguçu desde 2010. Apontado pelo comércio
local como mais um dia de portas fechadas e prejuízos financeiros, a data é
vista com orgulho pelos negros.
Elton Santos, um dos fundadores da ONG Centro de Integração das Entidades da
Metade Sul (Ciem), defende a manutenção do feriado e é claro ao ressaltar a
importância social da data para fazer a sociedade refletir sobre a inclusão
do negro.
- Os negros fazem parte desta sociedade, pagam impostos e produzem
riquezas, portanto, assim com o os pomeranos festejam o dia 25 de julho e 31
de outubro (por mérito), nós também queremos ter o dia da Consciência Negra –
pondera.
Para marcar a data, a Prefeitura organiza uma festa na Comunidade
Quilombola Potreiro Grande, 2º Distrito, que contará com a participação dos
13 grupos quilombolas do município, apresentações teatrais, dança e roda de capoeira.
O objetivo é homenagear Zumbi dos Palmares, um dos principais representantes
da resistência à escravidão durante o Brasil Colônia e líder do Quilombo dos
Palmares.
Enquete:
Canguçu possui 5 feriados municipais. Você considera excessivo este número?
Canguçu é um dos 500 municípios que transformaram a data em feriado.
Atualmente, tramita uma emenda no Congresso Nacional solicitando que o dia 20
de novembro se torne um feriado para todo o Brasil.
- Temos a certeza que vai virar lei. Ninguém vai ficar pobre se fechar
o comércio por um dia – aposta Santos.
Sobre a situação no município de Canguçu, o representante da ONG foi
direto ao avaliar a inclusão do negro hoje. Para ele, é muito mais fácil
encontrar negros trabalhando no recolhimento do lixo, cozinhas e lavanderias
do que em consultórios médicos ou até mesmo na Prefeitura.
Além disso, o líder lamenta o fato de, mais uma vez, a Câmara de
Vereadores não ter eleito sequer um negro, apesar das 15 vagas disponíveis. O
descontentamento muda de tom quando ele lembra com expectativa de que a
Secretaria de Educação deverá ser comandada pela historiadora Ledeci
Coutinho a partir de janeiro de 2013. Ela deve ser confirmada para
ocupar o cargo no governo do prefeito eleito Gerson Nunes (PT).
Confira a entrevista concedida por Elton Santos a Canguçu On Line:
Hoje, qual é tua participação no movimento quilombola em Canguçu?
“Sou um dos fundadores da ONG CIEM e fui o primeiro presidente da ONG. Participei da plenária Nacional e da II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial em Brasília em 2009, fui assessor de etnias, e atualmente faço parte da diretoria da ONG como assessor de comunicação.”
De que forma tu analisas a inclusão do negro no mercado de trabalho e
na comunidade em Canguçu?
“Muito simples responder: basta um giro pelo comércio, pela Prefeitura, pela Câmara de Vereadores, consultórios médicos, farmácias, escritórios, bancos, e ver quantos negros temos nestes espaços de trabalho. Depois, basta observar as construções, o recolhimento do lixo, o ponto de chapa, as cozinhas e lavanderias, por exemplo. Com pequenas exceções, terás a resposta para esta pergunta. Mas nós temos a certeza de que vamos mudar isto, através da Educação, por isso, defendemos a lei das cotas nas universidades e a lei 10.639/200, da implementação das diretrizes curriculares no Plano Nacional da Educação Étnico- Racial.”
O feriado da Consciência Negra é o quinto em âmbito municipal. Ele foi
criado em 2010 e gerou grande resistência entre os comerciantes por ser mais
um dia de portas fechadas. Na tua avaliação, esta resistência por parte dos
comerciantes é puramente pelo impacto financeiro ou por uma possível
“desvalorização” do negro ainda hoje?
“Eu entendo que os comerciantes tenham prejuízos, e pagam carga alta de impostos, mas os negros fazem parte desta sociedade e também pagam impostos e produzem riquezas. Portanto, assim com os pomeranos festejam o dia 25 de julho e 31 de outubro (por mérito), nós também queremos ter o Dia da Consciência Negra, em homenagem a Zumbi de Palmares. De uma forma igualitária queremos fazer parte da sociedade, elevar a auto-estima dos negros, e também valorizar e preservar nossa cultura e tradições . Os comerciantes reclamam dos feriados, mas é só ir em Rio Branco (no Uruguai) em um desses feriados ou em domingos, que podemos presenciar vários fazendo compras. Aos sábados a tarde é só ir nos mercados em Pelotas para ver a mesma situação. Isto também é evasão de divisas.”
No dia do Colono e Motorista, por exemplo, há intensa participação dos
comerciantes na festa ocorrida no interior do município. As lojas são
fechadas sem qualquer resistência. Qual a relação entre as datas?
“Gostaria muito de ver na nossa festa estandes de loja do comércio local, mas aproveito para convidar os comerciantes e o povo em geral para prestigiarem a festa da Consciência Negra no Potreiro Grande.”
Qual a importância de ver o comércio respeitar a data e paralisar o
serviço no feriado?
“No Brasil, existem mais de 500 municípios que têm esta data como feriado municipal. Está tramitando no Congresso Nacional uma emenda para que o dia 20 de novembro seja decretado feriado nacional, e temos a certeza de que vai virar lei. Ninguém vai ficar pobre se fechar o comércio por um dia e, se perguntarmos nas ruas, todos são unânimes ao dizer que não existe mais racismo. Esta, com certeza, é uma grande oportunidade para os comerciantes mostrarem que no seu comércio não existe racismo, e no dia 21 negros e brancos estarão lá para fazer compras.”
Como está estruturado o movimento negro no município?
“Hoje existem 13 comunidades quilombolas organizadas em Canguçu. A ONG CIEM existe graça a união de todas, e trabalhamos incansavelmente pelos nossos direitos. O Brasil possui uma dívida histórica com o povo negro. Pelo caminho encontramos muitas pessoas que contribuíram com nossa luta, a começar pelo Tio Bito, que foi o primeiro negro de Canguçu a formar um quilombo; o vereador Wendel Vilela, autor do projeto de lei do feriado; o vereador Ubiratan Rodrigues pela idealização do Prêmio Miné; o vereador Gerson Nunes, que assinou todos os estatutos das comunidades; a Secretaria de Cultura. Os colaboradores Dario Neutling, Ângela Vargas, Mario, Formiga, e todos os presidentes e ex-presidentes das 13 comunidades quilombolas, que ajudaram para o alcance de várias vitórias em nossa caminhada, embora saibamos que ainda há muito a ser conquistado.”
Fonte:Canguçu On Line.
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sábado, 17 de novembro de 2012
"QUEREMOS FAZER PARTE DA SOCIEDADE", DIZ REPRESENTANTE DA ONG CIEM SOBRE O FERIADO.
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